Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, deu um susto no agro do Brasil. Ele prorrogou a trégua tarifária com os chineses por mais 90 dias e declarou esperar que eles quadrupliquem a importação de soja norte-americana. Na prática, o pedido significa exclusividade absoluta no mercado mais valioso para o agronegócio brasileiro.
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Em 2024, a China importou 106 milhões de toneladas de soja, de acordo com os dados do Departamento de Agricultura dos EUA. Os norte-americanos forneceram 26,8 milhões de toneladas — quadruplicado, seriam 107 milhões de toneladas. Ou seja, mais ninguém venderia, inclusive o Brasil, onde o grão é o carro-chefe do agronegócio.
O país, porém, não teria condições de exportar tanto, ao menos não com a produção atual. Na prática, seria necessário parar de vender para o resto do mundo e ainda deixar de abastecer parte do consumo interno — o que significa menos alimentos para as mesas dos eleitores.
Safra nos EUA
Em 2024, a safra de lá fechou em 118 milhões de toneladas. Por volta de 50 milhões foram para o mercado externo, e quase 70 milhões foram para o consumo interno. Assim, mesmo que todas as exportações fossem para a China, seria necessário tirar 20 milhões de toneladas do consumo local. Seria um impacto direto no custo da ração animal, uma vez que o grão é uma de suas principais matérias-primas.


Ainda assim, há perigo para o Brasil. Qualquer aumento das compras no mercado norte-americano significa menos demanda para o principal produto do agro nacional.
Soja do Brasil para a China
A soja é o carro-chefe do agronegócio nacional. E a China é a principal compradora da produção brasileira. Diferentemente dos EUA, o volume comprado é superior até mesmo ao consumo interno.
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de soja do planeta. Ao mesmo tempo, a China responde pelo maior consumo do grão no mundo. Ao longo de 2024, o agro brasileiro produziu cerca de 170 milhões de toneladas do grão. Por volta de 100 milhões de toneladas foram para o mercado externo, sendo 72 milhões de toneladas destinadas diretamente aos chineses.
Os 72 milhões de toneladas de soja vendidos para a China trouxeram US$ 31,5 bilhões para o Brasil. A média por tonelada saiu por US$ 485. Assim, cada milhão de toneladas a menos seria um prejuízo de pelo menos US$ 485 milhões para o país. No mundo real, o prejuízo poderia ser ainda maior, já que o excedente tende a derrubar o preço médio da tonelada, agravando ainda mais as perdas.