A Casa Branca confirmou na quarta-feira (9) a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos. A medida, assinada pessoalmente pelo presidente Donald Trump, inaugura uma nova fase nas relações entre os dois países — e, na prática, subverte as regras básicas do comércio internacional.
Desta vez, não se trata de superávit, dumping ou competitividade. A motivação é ideológica e política, o que torna a medida ainda mais grave. Trump critica abertamente o julgamento de Jair Bolsonaro e acusa o Supremo Tribunal Federal (STF) de censura — misturando a política interna do Brasil com sua política externa de maneira inédita.
Durante anos acompanhamos as guerras comerciais dos EUA com China, Europa ou México baseadas em argumentos econômicos. Agora, a lógica mudou. Trump rompe com os fundamentos técnicos que sustentam o comércio internacional e inaugura uma era onde divergências políticas podem virar tarifas, boicotes e bloqueios.
O setor mais exposto é, sem dúvida , o agronegócio. Como analistas que acompanha de perto esse setor há décadas, posso afirma com segurança: a medida afeta o coração da nossa balança comercial.
Produtos como café, suco de laranja, carne, soja e etanol, fundamentais para o Brasil e importantes para o consumidor americano, perderam fôlego com a tarifa. A consequência direta será a redução da competitividade, queda nas exportações e prejuízos em cadeia, atingindo do pequeno produtor ao grande exportador.
A indústria de processamento, as cooperativas, a logística, todos os elos da cadeia agroindustrial sentirão o impacto. E, numa economia que ainda luta para ganhar tração, isso significa menos investimento, menos emprego e menos renda no campo.
A medida também contamina o ambiente macroeconômico. A Bolsa caiu, o real se desvalorizou, e o risco-Brasil subiu. Empresas como a Embraer, com presença estratégica nos EUA, podem ver contratos revisados. A confiança de investidores internacionais também se abala, e sabemos o quanto a credibilidade é um ativo frágil.
Ao justificar uma retaliação comercial com base em decisões judiciais brasileiras, Trump abre um precedente perigoso no cenário global: o comércio se torna ferramenta de intimidação.
Essa atitude enfraquece os organismos multilaterais como a OMC, desestabiliza acordos bilaterais e transforma a diplomacia
O governo brasileiro promete reagir com base na lei de reciprocidade, mas enfrenta um dilema: responder à altura sem agravar ainda mais a crise. O mercado norte-americano representa bilhões em exportações — e perder esse espaço pode ter consequências severas.
A estratégia agora exige frieza, articulação diplomática e um discurso que una setores produtivos e sociedade civil. Não é momento de bravatas, mas de ações coordenadas que reafirmam nossa soberania sem nos isolar do mundo.
A estratégia agora exige frieza, articulação diplomática e um discurso que una setores produtivos e sociedade civil. Não é momento de bravatas, mas de ações coordenadas que reafirmam nossa soberania sem nos isolar do mundo.
Conclusão
O que está em jogo vai muito além de tarifas. Estamos diante de uma nova forma de disputa global, onde a ideologia contamina o comércio e coloca em risco décadas de construção institucional e diplomática.
Como brasileiros, como produtores, como empresários ou cidadãos, temos a obrigação de compreender o tamanho do desafio — e cobrar das lideranças uma reação proporcional, inteligente e estratégica.
O Brasil precisa se posicionar não apenas como ofendido, mas como ator relevante e maduro no cenário internacional. Porque, no fim, a soberania se protege com firmeza, mas também com sabedoria.