“Make America Great Again”, às custas de quem?
O projeto político “Make America Great Again”, retomado com força por Donald Trump, parte da premissa de que os interesses dos Estados Unidos estão acima de qualquer regra multilateral, tratado diplomático ou respeito entre nações soberanas.
A diferença, agora, é que essa visão deixou de ser apenas um discurso e passou a se traduzir em ações de força e humilhação pública contra países que ousam contrariar Washington. E o Brasil, nesta nova etapa, parece ter sido o escolhido para servir de exemplo.
Ao sancionar um ministro do Supremo Tribunal Federal e impor tarifas estranguladoras ao agro nacional, os EUA sinalizam ao mundo: “quem não se submeter, será punido”.
Por que o Brasil?
- É economicamente relevante, mas politicamente vulnerável;
- Tem dependência comercial dos EUA em alguns setores
- Possui um governo fragilizado e polarizado, sem capacidade de resposta institucional firme.
Portanto, o país serve como “alvo estratégico”: grande o suficiente para causar impacto, fraco o bastante para não retaliar.
Esse abuso, travestido de defesa comercial ou moralismo jurídico, visa intimidar outros países e coibir qualquer desvio dos “caprichos” da política americana atual. Ao tentar se impor pela força, os EUA arriscam criar um efeito colateral perigoso: estimular a formação de alianças contrárias à sua hegemonia.
O mundo já começa a se reorganizar:
- Países do Brics buscam sistemas financeiros alternativos, como o uso da UnionPay ou moedas locais para o comércio;
- Novos blocos comerciais surgem com China, Rússia, Índia e países do Sul Global se aproximando;
- Há um movimento crescente de rejeição à intromissão política dos EUA, visto como neocolonialismo.
O “MAGA” pode se transformar em um projeto amargo, pois a tentativa de “tornar os EUA grandes” tem provocado desgaste internacional e fomentar um novo ciclo de polarização global e isolamento americano.
O setor agropecuário brasileiro, responsável por mais de 25% do PIB nacional, é duplamente afetado:
- Pelo impacto direto das tarifas, que tornam nossos produtos menos competitivos;
- Pela instabilidade institucional que afasta investimentos e parcerias internacionais.
Ao atacar o Brasil, os EUA colocam em risco cadeias de fornecimento globais e forçam o país a repensar sua dependência de mercados unilaterais.
Cegueira coletiva: quando o povo ignora o ataque
Do ponto de vista sociológico e antropológico, a resposta da sociedade brasileira tem sido marcada por um fenômeno perigoso: a naturalização da submissão. Em vez de reação, vê-se:
- Torcida ideológica, como se sanções fossem apenas parte da guerra política entre direita e esquerda;
- Colonialismo mental, com brasileiros aplaudindo punições externas ao seu próprio país;
- Cegueira voluntária, com parte da população incapaz de conectar tarifas e sanções à erosão da soberania.
Essa apatia é sintoma de um povo que perdeu a capacidade de pensar o Estado como patrimônio coletivo, e passou a agir como torcida organizada, ignorando os impactos reais no seu dia a dia, no emprego, no alimento, no campo.
Conclusão: o Brasil precisa acordar!!
O que está em curso não é apenas uma crise comercial ou jurídica. É uma tentativa coordenada de rebaixar o Brasil na hierarquia internacional, de potência regional a país submisso, sem poder de reação. E é preciso dizer com clareza: o governo Lula tem parte de responsabilidade direta na escalada dessa situação.
Ao adotar uma política externa ambígua, atacar sistematicamente adversários políticos e alinhar-se a regimes considerados autoritários, o presidente criou as condições para que os Estados Unidos se sentissem autorizados a retaliar o país em público, com tarifas, sanções e humilhações. Não se trata de defender Moraes ou o STF, mas de compreender que a instabilidade institucional aberta ao mundo cobra um preço alto, e ele chegou.
Diante disso, o Congresso Nacional, como representante legítimo do povo brasileiro, se posiciona com firmeza, junto com o executivo, diante de tarifas abusivas e de sanções políticas inadmissíveis.


*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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