A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) lamenta o falecimento da aluna egressa Elaine Lopes, ocorrido nesta segunda-feira (12). Ela se formou pelo curso de Licenciatura em História, em 2008, e pelo Mestrado Profissional em Ensino de História, em 2021. O sepultamento ocorreu na manhã de hoje (13), no Cemitério Parque Campos Gerais.
“Elaine foi uma professora de História muito responsável, comprometida, dedicada, dizia que uma das coisas que a motivavam para trabalhar essa temática era a fala das suas alunas negras na escola pública”, conta a professora Ângela Ribeiro Ferreira – ela foi orientadora de Elaine durante o Mestrado. A docente destaca o compromisso de Elaine com a escola pública, com a História de mulheres e homens negros e o papel da escola nesse contexto. “Isso era uma parte importante do trabalho dela na escola, ser referência e representação para uma grande parte das adolescentes”.
O Departamento de História e o ProfHistória lamentaram, em nota, o falecimento da egressa: “professora comprometida, responsável, dedicada, estudiosa, deixará muita saudade. Nossos sentimentos à família e aos amigos”. Pelas redes sociais, a página Alunos Campos Gerais reforçou que Elaine era “destacada como uma excelente profissional, que tinha o dom e a paixão em ensinar”.
Elaine era professora no Colégio Estadual Leopoldina, em Tibagi. “Dedicou sua vida a ensinar, inspirar e transformar. Sua paixão pelo conhecimento e seu compromisso com a justiça social deixaram marcas profundas em todos que tiveram o privilégio de aprender com ela. Sua voz e seus ensinamentos ecoarão para sempre em nossos corações”, disse o Colégio, em comunicado.
No Mestrado do ProfHistória, Elaine pesquisou sobre a história de mulheres negras na história do Brasil, sob o título ‘Mulheres Negras no Ensino de História do Brasil: a história de Maria Firmina dos Reis’, disponível aqui. Abaixo, um trecho da introdução da dissertação da Elaine:
“Eu cresci em um bairro pobre da cidade de Ponta Grossa no Paraná, mesmo sendo um bairro pobre eu era uma das poucas crianças negras que viviam ali, e sempre ouvia das mães de outros colegas que “não era para brincar com esses negrinhos”. Eu estudei na escola pública municipal do bairro, em que a presença de negros e negras também era baixo, nesse cenário eu sempre ouvia coisas desagradáveis sobre a minha aparência, principalmente sobre meu cabelo. Me lembro que quando eu tinha uns 8 anos, cheguei em casa e perguntei para minha mãe, se ela e minha avó materna, ambas brancas, realmente gostavam de mim, pois na escola haviam falado que brancos não gostavam de negros, foi nesse dia que entendi o que era preconceito.
Depois disso, minha trajetória sempre foi em busca de conhecimento, sempre incentivada por minha mãe, sabia que a educação poderia mudar a minha situação de vida, sempre estudei em escola pública, bem como me formei na graduação em universidade pública, sempre acreditei, acredito e a defendo. Hoje em dia, trabalhando na escola pública há 10 anos, percebi que a discriminação continua acontecendo, em várias vertentes da vida social, mas a população negra continua sendo alvo mais constante dessa discriminação e da miopia das políticas públicas. Diante disso, acredito que existe necessidade de se discutir sobre o papel do ensino de História na construção da identidade de meninos e meninas negras que estão na rede pública de ensino.
Eu percebia que o ensino de História era, na maioria do tempo, eurocêntrico, e o resultado de uma História de superioridade de um povo é que outros serão oprimidos e estereotipados. Os negros sofrem com preconceito, racismo, discriminação e marginalização até hoje por conta desse discurso eurocêntrico e racista, que é alimentado em nosso país. A escola deve buscar sempre a superação desses preconceitos que geram a discriminação”.
A UEPG se solidariza com familiares, amigos, professores, alunos e colegas pelo falecimento de Elaine.
Com informações da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)