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uma nova ferramenta contra eventos climáticos

Com eventos extremos mais frequentes, o seguro paramétrico surge como solução moderna, ágil e transparente — mas no Brasil, sua aplicação exigirá rigor técnico na definição dos parâmetros, do custo do prêmio e da capacidade de formação de reservas para enfrentar os riscos cobertos.

Com a intensificação das mudanças climáticas e o aumento dos prejuízos associados a secas, enchentes e outros eventos extremos, o seguro paramétrico vem se consolidando como uma alternativa inovadora no mercado de gestão de riscos. Diferente dos modelos tradicionais — que exigem vistorias e perícias para liberar indenizações — o seguro paramétrico funciona com base em indicadores objetivos e previamente definidos, como volume de chuvas, velocidade do vento ou intensidade de terremotos.

Na prática, se o indicador ultrapassa o gatilho acordado, a indenização é liberada automaticamente, sem necessidade de comprovação direta de danos.

Imagine um produtor rural que contrata um seguro parametrizado contra estiagem. O contrato prevê pagamento se o índice pluviométrico for inferior a 100 mm em 30 dias. Se a chuva realmente ficar abaixo desse patamar, o produtor recebe o valor contratado, mesmo que a lavoura ainda esteja de pé. A lógica é simples: se a condição climática extrema ocorreu, presume-se o prejuízo.

Esse modelo reduz custos operacionais, elimina burocracia e permite respostas rápidas — algo essencial em momentos de crise.

Viabilidade desse seguro depende de custo e estrutura técnica

Apesar do avanço global, no Brasil a viabilidade real do seguro paramétrico ainda depende de dois pilares fundamentais:

  1. Custo do prêmio: Ele precisa ser proporcional à capacidade de pagamento do produtor e competitivo frente ao seguro tradicional.
  2. Fórmula atuarial sólida: A estruturação do produto precisa considerar dados históricos de eventos extremos, modelagens climáticas regionais e projeção de reservas técnicas suficientes para garantir a solvência do sistema frente aos riscos assumidos.

A ausência de uma base atuarial robusta pode comprometer a sustentabilidade do produto e a confiança do mercado.

Segundo a Swiss Re, o número de contratos paramétricos saltou de 32 em 2017 para mais de 330 em 2023 no mundo, com forte presença nos setores de agronegócio, turismo, energia e infraestrutura. Governos também vêm adotando esse modelo como ferramenta de proteção fiscal.

No Brasil, o mercado ainda está em fase inicial, mas cresce com o avanço da tecnologia. Empresas usam dados de satélites, sensores climáticos e inteligência artificial para construir produtos personalizados e modelar riscos com precisão.

Como funciona o seguro paramétrico

  • Definição do gatilho: por exemplo, “chuva inferior a 100 mm em 30 dias”.
  • Monitoramento automático: por satélites, estações meteorológicas e sensores confiáveis.
  • Pagamento automático: sem perícia, se o gatilho for atingido.
  • Previsibilidade: o segurado sabe exatamente quando será indenizado.

Vantagens

  • Pagamento rápido e automático
  • Redução de fraudes e custos administrativos
  • Pode ser aplicado em áreas sem histórico de seguro tradicional
  • Complementar ao seguro rural convencional
  • Ideal para catástrofes com alto impacto e rápida propagação

Limitações e cuidados

A eficácia depende da definição correta dos parâmetros. Se o gatilho não refletir bem o risco real, pode haver distorções — como pagamento sem perda ou ausência de indenização em situações críticas. Por isso, é essencial contar com dados confiáveis, consultoria técnica e modelagem atuarial bem calibrada, principalmente no Brasil, onde a volatilidade climática e as desigualdades regionais exigem produtos altamente customizados.

O seguro paramétrico pode ser peça-chave na proteção de produtores frente à crescente instabilidade climática. Regiões como o Sul do Brasil, frequentemente atingidas por enchentes e estiagens, podem se beneficiar de modelos de proteção mais ágeis, alinhados às novas tecnologias e à realidade do campo.

Além disso, esse tipo de seguro pode ser incorporado a fundos de catástrofe agropecuária, como o proposto Fundagro, ampliando a capacidade de resposta rápida a crises e promovendo a resiliência financeira no setor.

O seguro paramétrico é mais do que uma inovação — é uma necessidade estratégica em um mundo onde o risco climático se tornou constante. Mas no Brasil, sua viabilidade dependerá da capacidade de precificação justa, da confiança nos dados e da formulação de reservas técnicas compatíveis com os riscos cobertos.

Com apoio da tecnologia, do setor financeiro e de políticas públicas inteligentes, o Brasil pode transformar o seguro paramétrico em uma ferramenta de proteção eficaz para lavouras, cadeias produtivas e a segurança alimentar do país.

Miguel DaoudMiguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

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