A 48ª Expointer, realizada no Parque Assis Brasil, em Esteio (RS), mostrou um contraste doloroso: público recorde e vendas em queda de aproximadamente 50%. O resultado escancara a crise profunda da agropecuária gaúcha, castigada por cinco anos seguidos de extremos climáticos que levaram milhares de produtores à beira da falência.
O desânimo do setor ficou evidente nas vaias direcionadas a ministros, governadores e lideranças políticas. Coroas de flores e balões pretos marcaram a abertura oficial da feira, simbolizando o luto do campo pela ausência de apoio concreto.
O governo federal anunciou, em resposta, a liberação de R$ 12 bilhões em recursos do Tesouro e possibilidade de até R$ 20 bilhões via sistema financeiro. Mas produtores criticaram a medida como insuficiente, destacando juros altos, prazos curtos e a falta de diálogo real. No Estado, o governo de Eduardo Leite anunciou ações emergenciais de postergação de dívidas e investimentos em infraestrutura, também recebidas com descrédito.
Para os agricultores, a sucessão de secas, enchentes e ondas de calor extremo já provocou perdas superiores a R$ 200 bilhões no Rio Grande do Sul. Diante desse cenário, a política de retórica e polarização se mostra corrosiva, quando o que está em jogo é a sobrevivência do setor produtivo.
As vaias da Expointer ecoam como um alerta: o campo gaúcho não pede favores, exige soluções objetivas e urgentes.


*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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