O diretório estadual do PSB no Pará é alvo de questionamentos depois de denúncias do Ministério Público apontarem envolvimento de sua atual vice-presidência com grupos de extermínio. A acusação recai sobre Hugo Atayde, vice-prefeito de Ananindeua e vice-presidente do partido no Estado, além de mencionar o prefeito Daniel Santos, que lidera o diretório.
Desde abril, Santos ocupa a presidência estadual do PSB, enquanto Atayde responde como vice. Os dois foram eleitos com o aval do presidente nacional da legenda socialista, Carlos Siqueira.
O Ministério Público afirma que Atayde é réu em processo no Tribunal de Justiça do Pará, informa o site da revista Veja. O socialista é acusado de crimes de tortura e associação criminosa armada, supostamente ligada a uma milícia composta por oito policiais militares.
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De acordo com a denúncia, parte desses policiais mantinha atuação direta no Legislativo paraense em 2019, cedidos à Assembleia Legislativa, sendo dois deles lotados no gabinete então presidido por Daniel Santos. Um desses agentes atuava como motorista do prefeito, que não figura como réu no processo.
O processo criminal contra Atayde, que já soma quase 5 mil páginas, não avança há cerca de três anos, tendo sido transferido entre três promotores de Justiça que alegaram impedimento por “motivo de foro íntimo”. A promotoria responsabiliza o dirigente do PSB e o grupo de extermínio pela morte de Matheus Gomes Silva, jovem de 23 anos acusado de furtar objetos avaliados em R$ 50 mil da casa do vice-prefeito em 3 de janeiro de 2019.
Mais alegações contra o dirigente do PSB no Pará
Segundo os autos, Atayde suspeitou de uma adolescente que trabalhava como babá, por não haver sinais de arrombamento e, junto de policiais, teria ameaçado a jovem com arma de fogo antes de levá-la à delegacia. No trajeto, ele acessou o celular da adolescente, localizou o contato de Matheus, que foi detido e torturado para confessar o crime, conforme o Ministério Público.


A Justiça considerou ilegal a prisão do casal, determinando sua soltura. Pouco depois, o grupo de extermínio publicou fotos dos dois nas redes sociais, tentando vinculá-los à facção criminosa Comando Vermelho, usando imagens obtidas ilicitamente do sistema penitenciário.
Em 27 de fevereiro de 2019, cinco homens invadiram a casa de Matheus. O jovem foi assassinado com tiros na mão, pescoço e cabeça. As munições eram da Polícia Militar do Pará, e o carro utilizado pertencia a uma policial suspeita de envolvimento em outros homicídios.
Desdobramentos políticos e investigações paralelas
Algumas semanas depois do crime, Atayde assumiu vaga de vereador em Ananindeua, graças a um acordo político que envolveu Daniel Santos, responsável por nomear a vereadora titular para cargo na Assembleia Legislativa. O Ministério Público denunciou o hoje vice-presidente do PSB no Pará como mandante do homicídio, mas, em junho de 2021, o tribunal do júri rejeitou a acusação de assassinato, mantendo as denúncias de tortura e associação criminosa para análise de outra vara criminal.
No início de 2022, já à frente da Prefeitura de Ananindeua, Daniel Santos nomeou Atayde como chefe de gabinete e, depois, indicou seu nome como vice para a disputa à reeleição em 2024. Em março, pouco antes de assumir cargo no PSB, Atayde solicitou o arquivamento do processo sob alegação de falta de provas e de que o caso não deveria ser enquadrado como ação penal.
Daniel Santos também enfrenta investigação do Ministério Público por suposto desvio de R$ 260 milhões em recursos da saúde, via superfaturamento no hospital particular Santa Maria da Ananindeua, do qual era sócio. Ele pediu ao Supremo Tribunal Federal o encerramento do inquérito.
O PSB integra a base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A legenda socialista abriga, por exemplo, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.