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Vinte Anos de ESG no Brasil: muito marketing, pouco retorno

O termo ESG surgiu em 2004 com o relatório Who Cares Wins, resultado de uma iniciativa do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) em conjunto com o Banco Mundial. A proposta partiu de um desafio lançado pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aos presidentes das principais instituições financeiras globais: incorporar fatores ambientais, sociais e de governança (environmental, social and governance) às análises de investimentos, risco e retorno do mercado de capitais.

No ano seguinte, em 2005, a B3, na época ainda Bovespa, lançou dois índices alinhados a esse espírito: o Índice de Governança Corporativa Trade (IGCT B3) e o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3). Ambos foram criados com o objetivo de mensurar o desempenho de ativos de empresas que seguiam, respectivamente, práticas consolidadas de governança corporativa e critérios de sustentabilidade. Era o início da tentativa institucional da B3 de unir desempenho financeiro e virtudes socioambientais.

Agora, em 2025, temos duas décadas de histórico para avaliar se essas carteiras geraram um retorno superior aos investidores. E, por coerência metodológica, a comparação óbvia é com o índice Ibovespa, que serve de referência para o mercado acionário nacional.

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A premissa dos defensores do ESG é conhecida: empresas com boas práticas ambientais, sociais e de governança tenderiam a apresentar melhor performance no longo prazo. A própria B3 afirma, em seu site, que “as práticas ESG contribuem para a perenidade dos negócios”. Contudo, os dados contam uma história diferente e desconfortável para os entusiastas da sustentabilidade no mercado de capitais.

Desde sua criação até junho de 2025, o ISE B3 acumulou valorização de 282,3% em reais, o que representa cerca de 6,6% ao ano. Em dólares, o retorno foi de 48,4% no período – apenas 1,9% ao ano. Já o IGCT B3 teve desempenho consideravelmente melhor: 515,7% em reais (equivalente a 9% ao ano) e 153,5% em dólares, ou 4,5% anuais. Para fins de comparação, o Ibovespa rendeu 423,6% em reais (ou 8,2% ao ano) e 144,5% em dólares (4,3% anuais) no mesmo intervalo.

O ESG no mercado acionário

Painel com preços de ações no moderno centro de visitantes B3, da Bolsa de Valores de São Paulo, Brasil | Foto: ShutterstockPainel com preços de ações no moderno centro de visitantes B3, da Bolsa de Valores de São Paulo, Brasil | Foto: Shutterstock
Painel com preços de ações no moderno centro de visitantes B3, da Bolsa de Valores de São Paulo, Brasil | Foto: Reprodução/Shutterstock

O mercado acionário brasileiro teve modesto desempenho nesses 20 anos, de 2005 a 2025, pois todos os três índices avaliados tiveram retornos inferiores ao CDI. Porém o ISE B3 teve um retorno abaixo da caderneta de poupança, que no período rendeu 285,6%. Conservadoramente, quando comparado ao ouro, que se valorizou 1.500% no mesmo período, a diferença é abissal. Em outras palavras: o investimento dito “sustentável”, como mensurado pelo ISE B3, revelou-se um péssimo negócio para o investidor.

É difícil justificar tal alocação para quem leva a sério os princípios do investimento racional, o que seria o investidor inteligente para citar Benjamin Graham, que sempre defendeu a preservação do capital e a disciplina analítica como fundamentos essenciais.

Portanto, no contexto brasileiro, os dados empíricos não sustentam a tese de que empresas alinhadas às diretrizes ESG entregam melhores resultados financeiros, que no fim é o que paga a conta. Por outro lado, é possível afirmar que a carteira composta por empresas com padrões sólidos de governança corporativa, como afere o IGCT B3, teve desempenho superior. Isso reforça a tese de que boa governança melhora a eficiência, reduz riscos e contribui para o retorno dos acionistas.

Cabe ao investidor decidir onde alocar seu capital com base em informações concretas e verificáveis, e não em slogans publicitários ou pressões político-ideológicas. Sustentabilidade, equidade, ética e outros critérios subjetivos podem — e devem — ser considerados por quem julgar relevante. Mas isso deve ocorrer de forma transparente, voluntária e personalizada, e não como promessa generalizada de performance superior.

O que não se pode admitir é a perpetuação de “narrativas” divorciadas da realidade, como a de que carteiras ESG ou DEI garantem retornos acima da média. Essa retórica, infelizmente, tornou-se lugar-comum entre muitos gestores e instituições financeiras, sem que se apresentem números concretos para respaldá-la. Trata-se de desonestidade intelectual, ou pior, de um risco real à confiança do investidor em seu gestor.

A responsabilidade fiduciária do gestor é inequívoca: maximizar o valor do investimento do cliente, e não financiar causas sociais com o patrimônio alheio. Ainda que algumas dessas causas sejam meritórias, não cabe ao gestor sacrificar o retorno do cliente em nome de suas convicções pessoais. A ética profissional exige foco em resultados e respeito à liberdade de escolha do investidor.

Mais grave ainda é o silêncio conveniente. Não vi nenhum dos gestores militantes do ESG dar transparência e divulgar os números do ISE B3 — o que, convenhamos, diz muito sobre suas prioridades. Em tempos de narrativas abundantes, o investidor atento deve se guiar pelos fatos.

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Por André Burger, economista.

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