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‘Você tem um câncer, não uma sentença’: esposa de atacante brasileiro supera drama e vira exemplo dentro e fora do esporte

O brasileiro Rafael Ratão, natural de Sumaré, município de São Paulo, atravessou o mundo para reencontrar o sonho de jogar futebol. Depois de passagens frustradas pelas categorias de base de São Paulo, Guarani e Ponte Preta, além de diversos empréstimos dentro do Brasil, o atacante desenvolveu maturidade e disciplina e apostou suas fichas no futebol da Ucrânia, assinando com o Zorya Luhansk.

A estreia em competições como a Champions League e a Europa League e os gols marcados chamaram a atenção do Slovan Bratislava, o principal clube da Eslováquia. Por lá, Ratão conquistou seis títulos e se tornou um dos destaques do time.

Quando tudo parecia correr bem, um novo desafio se apresentou. A saída da equipe eslovena foi conturbada. Com proposta atraente da Arábia Saudita, o presidente do clube bateu o martelo de que só liberaria o atacante para o futebol francês, em nova proposta do Toulouse. O impasse e a incerteza sobre o futuro levaram Ratão a um quadro de ansiedade e depressão.

Após período de intenso sofrimento, o jogador se rendeu e aceitou a transferência para o futebol francês. No Toulouse ele reencontrou a alegria de jogar futebol. Campeão da segunda divisão do futebol do país e da Copa da França, atingiu o alto nível dentro dos gramados.

De lá, o retorno para o futebol brasileiro, agora carregando uma bagagem maior dentro e fora dos gramados. O sinal de que Salvador era o lugar certo foi claro: um sonho em que assinava com um time azul e vermelho, poucos dias antes da proposta chegar.

Apesar dos poucos minutos em campo pelo Bahia, o propósito maior de retomar a proximidade com as origens e com a família seria revelado nos meses seguintes. Paula Marchese, esposa de Rafael, foi diagnosticada com câncer de mama.

“Eu lembro até hoje quando ela descobriu. Ela começou a chorar, a gente se abraçou, falei para ela ficar tranquila, que eu estava sentindo uma paz no meu coração, Deus estava falando comigo que vai ia ser leve”, contou o atacante.

Paula descobriu o nódulo no final de julho, através de um auto-exame. Pouco antes, em maio do mesmo ano, ela havia feito um check-up e suas mamas estavam perfeitamente saudáveis. O susto foi acompanhado de ação rápida e a esposa de Ratão foi em busca de novos exames.

No ultrassom, o médico solicitou uma biópsia. O resultado foi o mais temido por Paula: a confirmação de um carcinoma invasivo. O nome “câncer” assusta, mas, conversando com uma amiga próxima, ela entendeu que precisava ser forte para enfrentar a doença.

“Uma amiga minha que já passou por isso falou pra mim ‘você tem um câncer, não uma sentença’. Nesse momento eu falei ‘eu tenho câncer, mas o câncer não vai me ter, eu vou lutar’”.

O diagnóstico rápido contribuiu para a rápida recuperação. Jovem e sem histórico da doença na família, Paula procurou um mastologista assim que sentiu o caroço e conseguiu identificá-lo quando ainda tinha apenas um centímetro.

O câncer, do tipo invasivo, poderia ter se espalhado por outras partes do corpo em caso de demora na identificação. “O que ajudou muito foi esse diagnóstico rápido. Muita gente às vezes acha que é só um caroço, não é nada demais, o meu alerta hoje é: faça o exame, porque quanto antes a gente descobre o câncer de mama, mais rápido conseguimos combater e a cura é possível”, relatou Paula.

O primeiro passo do tratamento foi a realização de uma cirurgia para a retirada do nódulo com uma margem de segurança. O procedimento, considerado conservador, foi facilitado pelo tamanho do nódulo e sua visibilidade. Paula saiu do hospital no mesmo dia, sem nenhuma complicação: “o que mais me deixou com medo foi o resultado da cirurgia, o que seria o tratamento a partir dali”.

Foram seis sessões de quimioterapia, realizadas a cada 21 dias em Salvador. Paula sempre foi muito apegada a seu cabelo, mas, após a primeira sessão e com o agravamento do estresse pela partida de sua cachorrinha, começou a perdê-lo. Nesse momento, ela decidiu raspar a cabeça de vez: “me senti muito mais corajosa depois que eu raspei o cabelo. Ali eu assumi realmente o que eu estava vivendo”.

Quando Paula estava na terceira sessão da quimioterapia, Rafael Ratão descobriu que iria jogar do outro lado do mundo, no Cerezo Osaka, do Japão, onde está até hoje. A esposa ficou dividida: ao mesmo tempo em que queria apoiar o marido na nova oportunidade, se viu sozinha em Salvador, com a rede de apoio toda no interior de São Paulo.

A decisão foi de voltar a morar em Penápolis, a cerca de 400 quilômetros da capital paulista, e retornar para a capital baiana a cada 21 dias para dar continuidade ao tratamento. Foram as amigas, esposas de outros jogadores do Bahia, que passaram a acolher Paula nesse processo.

Ratão relembra como foi o período do tratamento que passaram afastados: “as meninas estavam dando todo suporte, ela se sentia super feliz e amada, tenho que agradecer, porque elas foram muito importantes na vida da Paula”.

Após quase seis meses separados, Paula concluiu o tratamento e se mudou para o Japão. O primeiro jogo em que estiveram juntos foi logo no Dia das Mães. Rafael Ratão relembrou o momento marcante para a família:

“O primeiro jogo que ela foi ver foi contra o Yokohama Marinos. Foi um jogo difícil, eu fiz um gol, ganhamos de 1 a 0 e no final dei uma entrevista. Chorei bastante, porque eu estava com tudo guardado, cheio de emoção, de ver ela lá no estádio, poder fazer um gol, falar sobre o câncer. Foram várias emoções que vão ficar marcadas para sempre em mim”.

Os planos do casal para 2026 incluem a permanência no futebol japonês e a chegada de um novo filho. Maria Laura, de 6 anos, deve ganhar um irmão mais velho em breve. Paula quer usar as férias para retornar ao Brasil para novos exames para que, apesar de ter congelado óvulos, possa tentar engravidar naturalmente com a liberação médica.

Com a vitória inspiradora na luta contra o câncer de mama, Paula deixa um recado para as mulheres que enfrentam a mesma doença: “Não precisa ter medo de um câncer ou de uma quimioterapia. É difícil, mas passa. Se a gente souber confiar e acreditar que somos fortes, conseguiremos passar por isso”.

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